El vino da brillantez a las campiñas, exalta los corazones, enciende las pupilas y enseña a los pies la danza. José Ortega y Gasset (1883-1955).

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Miolo Gamay 2009 por Henry Marionnet



Tradicionalmente a Miolo tem lançado este vinho por ocasião da Páscoa. A safra 2009 recebe a assinatura de Henry Marionnet, um dos melhores viticultores da França segundo Robert Parker, considerado pela imprensa francesa e pela crítica internacional como "o papa do Gamay", respaldando desta forma todo trabalho da vinícola. Este Miolo Gamay 2009, foi elaborado com uvas da Campanha gaúcha (RS), através do processo de maceração carbônica.

Levei uma caixa (BIB) deste vinho para ser avaliado pela Gurisada do Porto, vamos realizar uma espécie de laboratório, alguns testes comparativos e provas com os quitutes da casa. Nos próximos dias estaremos registrando as primeiras impressões de Toni Capello, Irmã la dulce, Ralph e os Radicais Livres, Dr. Villanova, Lili não veio, Vera que mora na praia e mesmo de alguns abstêmios desconectados. Não são pessoas com conhecimento especializado no assunto, mas grandes apreciadores de vinho, que sempre demonstraram forte vocação para reverter nossa média histórica de consumo de 2 litros por habitante/ano.

Resultados brevemente nos comentários deste post.

Allors, como costumam anunciar bons restaurantes da França: “le beaujolais est arrivé”.

domingo, 26 de abril de 2009

O amargo de um domingo


Domingo não teve almoço, não teve vinho, minha namorada viajou para Buenos Aires e passei o dia sozinho. Não teve aquele entrecot em molho de vinho tinto, nem batatas enrubescidas, nem salada de folhosas ao balsâmico.

Acordei cedo, preparei meu chimarrão e fui para a beira da praia, na Vila Assunção, tomar uns mates e mirar a imensidão do Guaíba, rio e lago. E foi assim, olhando os biguás voando em torno do molhe do farol da ilha e escutando o canto alarmado de um bando de Quero-queros na distância da Ponta do Dionísio, que retornei aos ensinamentos de Ch’ng Poh Tiong, meu novo mestre espiritual e passei a meditar profundamente.

Vi a espuma brilhante que se formava com a água quente vertida no interior da cuia e logo pensei: são saponinas, esta erva é rica nestas substâncias - em polifenóis, taninos e metilxantinas também. Os benefícios que traz para nossa saúde já foram largamente estudados, é superior ao chá verde, que tem sido tão divulgado ultimamente. No Rio Grande do Sul costumamos tomar o mate em roda, servindo de mão em mão, passando a cuia com a mão esquerda, que é a mão do coração e a roda girando sempre no sentido horário. Na Argentina e Uruguai é bebido individualmente, cada pessoa mateia em sua própria cuia. No Paraguai e Mato Grosso é servido gelado em guampas de bovinos ou mesmo em copos de vidro. E novamente me perguntei por quê. Por que tanta diversidade se é um hábito herdado de ancestrais comuns de toda esta região da América do Sul. O clima é um fator determinante, é uma extensa área com diferentes formações desde o Pampa ao Pantanal, passando por florestas sub-tropicais, serras e montanhas. A alimentação também varia muito, deve haver algum casamento entre o modo que a bebida é consumida e os pratos típicos de cada região. Imigrantes europeus que começaram a chegar no século XIX devem ter contribuído para a existência destas diferenças...

sábado, 25 de abril de 2009

Receita de engasga-gato

São muito fáceis e rápidos de preparar os verdadeiros engasga-gatos. Não existe receita específica, mas apenas alguns objetivos práticos como reciclar, reaproveitar e evitar o desperdício de alimentos. Servem para limpar a geladeira.

Alguns exemplos conhecidos são o spaghetti alla putanesca, o arroz com lingüiça e iscas de costela, a tradicional roupa velha, fricassés e omeletes reinventados.

Vão bem com diversos vinhos, mas devemos preferir os leves, jovens e de graduação alcoólica não muito elevada. Pode ser o vinho do consumo diário, um cálice apenas já fica bem.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Era uma jovem bruxa

Era uma jovem bruxa e conhecia 1001 encantos. Morava num canto escondido da tristeza, em uma pequena rua estreita e sem saída, calçada com pedras irregulares de granito azulado. Construiu sua casa com peças que recolhia entre escombros de casas demolidas, eram caibros, barrotes, oitões perfurados por galerias de cupins, taboas escamadas com sinais de antigas pinturas, dormentes desenterrados de estradas de ferro esquecidas e tijolos enormes unidos por uma fina argamassa.. As paredes eram decoradas com peças de antiquários. Entre a mobília havia uma pesada bancada de marcenaria e algumas mesas rústicas com tampos de madeira. Do teto pendiam lanternas cobertas de pano vermelho e uma clarabóia iluminava toda a sala naturalmente...

Este é o Bistrô de Cida Pinto e Rosa. Fica na Rua Iete 454, Bairro Tristeza, na zona sul de Porto Alegre. Duas mineiras de Nanuque, município do Vale do Rio Mucuri, norte de Minas, divisa com o sul da Bahia e Espírito Santo. De lá trouxeram este jeito tão delicado de cozinhar e atender a clientela da casa. Servem cafés, chás, salgados, doces, sanduíches e tortas deliciosas – minha preferida é de morango com nata. Servem almoço diariamente também, o cardápio é anotado com giz no quadro-negro. Aos sábados a comida é especialmente mineira.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Sushis, sashimis e dois brancos de Villard Estate

Tive oportunidade de provar estes vinhos durante um encontro que participei em Santiago, numa primavera já um pouco distante. Juntos comigo estavam Anderson Schmitz e Marcos Vian, dois enólogos brasileiros com destacado trabalho em nossas vinícolas. Fomos especialmente convidados pelo Maestro Tonelero Sebastien Villard, Gerente General da Nadalie Chile.

Estivemos reunidos por algumas horas em restaurante muito agradável no bairro Bella Vista, com mesas ao ar livre, em noite de temperatura amena. A mesa composta com pratos orientais combinava perfeitamente com os vinhos degustados.

O primeiro era um Sauvignon Blanc elaborado com uvas colhidas manualmente no Valle de Casablanca. Vinho de coloração amarelo-palha e alguns reflexos esverdeados, nariz complexo com algo de cítrico, lembrando um pouco frutas tropicais como o maracujá. Possui excelente estrutura e refrescante acidez.

O segundo era um vinho da variedade Chardonnay, também procedente do Valle de Casablanca, que é colhido manualmente durante o mês de abril. Tem coloração amarela com reflexos dourados, com nariz complexo e boa estrutura. Notas de frutas tropicais e suave baunilha.

Ambos são vinhos excelentes para acompanhar pratos a base de peixes, mariscos e saladas diversas. Foi uma noite perfeita aquela...

A Villard Estate produz outros vinhos muito interessantes, destaque para o Tanagra 2006, recentemente premiado como o melhor Shiraz do Novo Mundo. É um vinho produzido manualmente em todas suas etapas: colheita, seleção, desengace e que passa a fermentação, maceração e envelhecimento em barricas de carvalho francês Nadalie. Produzido em quantidade muito limitada. Vinho de grande estrutura com potencial de guarda de muitos anos. Recomendado para acompanhar pratos a base de cordeiro, peru ou queijos defumados.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sobre o construtivismo e a degustação de vinhos

Tenho lido e relido textos de uma polêmica senhora, que costuma pintar seus cabelos de diversas cores, são mechas e luzes douradas, alguns fios com nuances de verde-citrino, vermelho sanguíneo, rubi profundo, púrpura violáceo, amarelo âmbar, rosa carmim e outros matizes tantos, que muitas vezes podemos perceber apenas como tênues reflexos. Todos eles são radicalmente modificados a cada 15 dias. Excelente cozinheira tem por hábito obsequiar seus conhecidos com fornadas de merengues de extrema leveza e suave doçura. Prepara um vatapá de primeira que vem sempre acompanhado de bons vinhos.

Construtivismo Pós Piagetiano – Um novo paradigma sobre aprendizagem, livro organizado por Esther Pillar Grossi e Jussara Bordin com trabalhos de diversos autores, Editora Vozes – 1993. É o que ando lendo entre uma e outra degustação. É resultado de um período de grande efervescência na Secretária de Educação do município de Porto Alegre e que tive oportunidade de acompanhar de muito perto. Quero trazer este assunto para os encontros de degustação que realizo. São reuniões onde todos participam e tem oportunidade de falar sobre coisas que identificam nos vinhos. A avaliação é construída em conjunto, com muita interação e troca de idéias. Partimos do princípio que nada está pronto e acabado, por isso não emitimos nenhum juízo ou passamos informações prévias sobre os vinhos degustados. As impressões e as falas de cada participante é que determinam a dinâmica de aprendizagem e o processo de desenvolvimento do conhecimento.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Confraria do Porto

O frio não chega nunca e o outono não começa, mas não vamos esperar mais, no próximo dia 25 estaremos reiniciando nossos estudos enogastronômicos. Novamente o tradicional Bacalhau a Gomes de Sá acompanhado de três vinhos especialmente indicados para o evento por enólogos de nossas vinícolas.

Direção Geral de Antonio Magalhães.

Panelas e controle dos bicos queimadores com o experiente Chef Rodrigues.

Saladas, temperos e toque final da bela e exuberante Fabiana.

Vagas limitadas para membros da Confraria. Garanta já sua participação escrevendo para schumacher137@gmail.com .

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ardência e Suavidade

Estava preparando um antipasto de berinjela, encomenda muito especial que recebi a poucos dias, quando lembrei ter lido em algum site, que pimenta sempre pede alguma doçura. Aprendi esta receita em Bento Gonçalves, numa época em que estudava italiano. Foi um pequeno desvio do programa do curso, mas que acabou por transformar-se na aula mais proveitosa daquele semestre. Sbucciare la melanzane..., começava assim. Fui fazendo algumas modificações ao longo do tempo, não retiro mais a casca, pois prefiro sentir seu gosto mais forte e admirar os contrastes de sua cor, altero ervas aromáticas conforme a época do ano e utilizo sempre uma pimenta malagueta cultivada no clima ameno da serra. Faço alguns potes para os amigos e, às vezes, quando cozinho, aproveito para transformar alguns pratos como nos molhos de massas e pizzas.

Normalmente é servido acompanhado de algum tipo de salame, copa, queijos fortes e azeitonas pretas, tenho visto assim em vários restaurantes italianos. Quase sempre pedimos um bom tinto enquanto aguardamos o prato principal. Confesso que nunca experimentei esta combinação de ardência e suavidade, mas acho que pode funcionar, pois segue o princípio da atração entre opostos: fogo e água, calor e frio. Deve andar muito bem na companhia de um moscatel, temos várias opções entre nossas cantinas e algumas marcas são realmente muito boas. Falta em muitos bares e restaurantes o serviço de espumantes em cálices, o que poderia tornar a refeição mais acessível e com uma harmonização mais completa. Utilizando-se tampas metálicas adequadas, que proporcionam bom fechamento de garrafas, garantindo sua conservação, não é difícil oferecer esta alternativa no cardápio.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Ch'ng Poh Tiong

CH’NG Poh Tiong é editor das revistas Wine Review, Chinese Bordeaux Guide, Tables, Aussie Rules, Asian Sommelier Guide e colunista da Decanter, Singapura. É dele o texto “Compreender os gostos e as expectativas dos consumidores de vinho do mercado asiático”, tema de Seminário no ENOFORUM de Piacenza, Itália. Vale a pena conhecer este e outros trabalhos do autor, o texto integral está disponível na Revista Internet de Viticultura e Enologia nº3/2009 em www.infowine.com . Sublinhei algumas observações sobre diferentes hábitos e costumes de indianos, chineses, coreanos, japoneses, indonésios, malásios....

Na China, país do chá, as pessoas do norte preferem o chá oolong semifermentado ao chá verde, não fermentado, que é o favorito em Xangai. Esta cidade, na zona central da China, e toda região abaixo é considerada sul. Contudo, se formos ainda mais para o sul, para as províncias de Fukien e Guangdong até Hong Kong, os chineses preferem oolong e chá preto, tal como no norte, sabe-se lá porque motivo, é o paradoxo chinês. Os habitantes de Pequim preferem o pato assado, enquanto que os de Xangai preferem frango. Os do norte preferem massas, bolos e pão, enquanto no sul o produto principal é o arroz, porque é facilmente cultivável. Historicamente e mesmo nos dias de hoje, as pessoas que vivem perto do mar costumam ter mais oportunidades econômicas e comerciais, incluindo maior facilidade de emigração, do que as que vivem no interior. A posição geográfica influencia diretamente a gastronomia: os que vivem perto do mar apreciam mais peixe e marisco, descobrindo muitas formas de prepará-los, devido a grande quantidade de ingredientes disponíveis, enquanto que os que vivem no interior costumam comer mais carne. Por estarem habituados com cozinhas, ingredientes variados, pratos complexos e muito diferentes entre si, são consumidores que não encontram dificuldade maior para distinguir nuances e sutilezas de gosto ou aroma. Por este motivo, os orientais são capazes de apreciar diversos tipos de vinho, porem não significa que o possam compreender. É como alguém que não conhece chá, e descobre que existem 5 grupos diferentes de chá e que nesses 5 grupos existem muitos mais chás diferentes.

Se alguém pretende vender vinho nestes mercados, precisa circular pelas ruas, conhecer hábitos e costumes, descobrir sabores de cada cozinha e impregnar-se da cultura local, desta forma conseguirá definir seu próprio vinho através de novas perspectivas.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Quatro milhões de Periquitas

4.093.000 litros de Periquita, esta foi a produção de vinhos desta marca na safra 2005, principal rótulo da José Maria da Fonseca, empresa familiar, fundada por volta de 1850. 85% da produção são exportados, atendendo mercados de paises como Suécia, Dinamarca, Noruega, Canadá, EUA e Brasil. É a marca de vinho de mesa mais antiga de Portugal, tendo sido registrada em 1941. A JMF cultiva 683 hectares de vinhedos próprios, distribuídos em diversas regiões, a maior parte em Setúbal e no Alentejo.

Portugal com seus 92.391 km², área pouco maior que a soma dos territórios do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, possui 248.880 hectares plantados com vinhas, praticamente sete vezes toda a viticultura do Rio Grande do Sul, e, se considerarmos apenas nossa produção de uvas viníferas, chegaremos a resultados, no mínimo, perturbadores. Aos olhos de nossa jovem e iniciante viticultura, estes números podem provocar alguma inquietação, pode parecer assustador até, esta verdadeira revoada de garrafas aladas atravessando o Atlântico, quase um cena de Hitchcock, mas devemos examiná-los com desassombro, pois, afinal de contas, boas parcerias vêm surgindo nos últimos tempos. Há um intercâmbio técnico crescente, enólogos e agrônomos portugueses visitam nossas regiões produtoras com regularidade, sendo que muitos aparecem por aqui espontaneamente em suas andanças pela América do Sul. Muitos de nossos técnicos e pesquisadores têm realizado viagens de estudos e estágios práticos em cantinas portuguesas. Algumas castas portuguesas começam a ser testadas em novas regiões do estado, alguns vinhedos mostram resultados promissores, e acordos comerciais entre empresas dos dois paises estão em pleno vigor.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Garganta con arena

"Ya vês, el dia no amanece, polaco Goyeneche
Cantame um tango más..."

Começa assim esta canção de Cacho Castaña, composição instigante e arrebatadora que harmoniza perfeitamente com alguns cálices de Malbec. Gosto de saborear um bom vinho escutando minhas músicas preferidas, e para acompanhar bastam alguns queijos, frios, salames, frutas secas, algumas fatias de pão e tempo, muito tempo. Conheço algumas interpretações desta música, uma delas do próprio autor, mas prefiro as versões femininas e penso que podemos combiná-las com estilos diferentes deste emblemático vinho argentino.

Com Adriana Varella, a mais correta seguidora do estilo de Roberto Goyeneche, casa muito bem o Luca Malbec 2006, elaborado com uvas dos melhores vinhedos da família Catena de Mendoza. É um tinto escuro, concentrado, de suave fineza e grande elegância. Tem muito corpo e um ataque maduro. Já o Tília Malbec 2006 da Bodegas Esmeralda pode acompanhar a voz de Soledad Pastorutti, é esbelto, refinado, boca aveludada como um suave terciopelo, coloração viva e brilhante, mesmo a media luz. Ano passado fiquei conhecendo a versão de Shana Muller, jovem cantora gaúcha. Foi num final de tarde, em sarau realizado no Solar dos Câmara, que fica na rua Duque de Caxias, próximo a Praça da Matriz de Porto Alegre. Não foi possível tomar nenhum vinho naquele ambiente comportado, mas de bom grado escolheria o Malbec Dom Laurindo. Já experimentei este vinho no mais completo silêncio, como nos pedem algumas garrafas e momentos de reflexão. Foram duas grandes revelações, o vinho, contrariando indicações e juízos antecipados e Shana com suas notas e ares tardios de Califórnia. Pensando melhor, foram três revelações, contando com o Sarau do Solar, que acontece todas quartas-feiras, e que retorna agora, sempre com bons músicos e nova programação.

Nina Moreno precisa de outro parágrafo, esta cantante uruguaia que, com seus respeitáveis 80 anos, atravessa as noites da cidade, cantando um repertório inesgotável de músicas latino-americanas. Veio de Montevidéu em meados da década de setenta, junto com outros músicos profissionais, buscando segurança e condições de mostrar seu trabalho. Foi proprietária de uma casa de espetáculos muito famosa naquele tempo, hoje se apresenta em palcos mais acanhados, mas nunca perdeu o estilo, e sabe cantar aquela viejita. Caminha com dificuldade, anda sempre apoiada numa bengala, mas quando arranca Garganta com Arena do fundo de sua alma, desaparecem todas as dores, o ambiente todo se transforma e, como dizem os versos de Lupiscinio, ilumina toda a sala, mais que a luz do refletor. Para acompanhá-la somente um verdadeiro Tannat uruguaio e o violão arranhado do Professor Maseratti. Difícil é encontrar este vinho por aqui, nos supermercados são poucas as marcas do país vizinho, em lojas especializadas, e mesmo nas diversas parrillas uruguaias que se espalham pela cidade, não existe nada de entusiasmar.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O casamento entre o plátano e a videira





Eles estão por toda a parte e destacam-se na paisagem. Quase sempre aparecem juntos, os plátanos formam uma verdadeira moldura no desenho dos parreirais. O efeito é ornamental, mas são plantados para amarração dos arames de sustentação dos vinhedos, conduzidos no sistema mais tradicinal da serra. O relevo acidentado, o solo pedregoso, que dificulta o alinhamento das mudas e o plantio de postes, juntos com a procura por alta produção, acabaram consagrando este tipo de parreiral entre nossos produtores. São plantados por multiplicação vegetativa, uma simples vara é enterrada na cabeceira da fila, enraiza facilmente e em pouco tempo atinge o porte e estrutura suficiente para segurar toda carga de produção do vinhedo.













Nesta foto vemos um plátano já desenvolvido, o tronco funde-se com um mourão de pedra, criando um íntima união. O arame desaparece no interior da madeira.









Linhas de plátanos riscam a paisgem formando quadros com diferentes variedades de uva nestes vinhedos de Santo Isidoro. A mata nativa resurge nos vinhedos abandonados, os plátanos permanecem como testemunhas de um tempo passado e sua folhagem verde clara aparece entre pés de Cedros, Açoita-cavalo e Cangeranas









Vinhedo recem formado utilizando condução vertical com duas linhas de carga. Os plátanos já estavam ali e foram aproveitados para fixação dos arames. Foi deixado um espaçamento entre a cabeceira das filas e a linha das árvores, permitindo assim a circulação de máquinas e implmentos, evitando tambem o sombreamento das parreiras.





Outra foto panorâmica, esta fica em Santa Lúcia e podemos ver algumas Araucárias sobreviventes. Nestes início de outono é chegado tempo de escalar seus troncos e derrubar as bochas de pinhões.










Detalhe da amarração da cabeceira do parreiral. As pedras enormes servem para esticar os arames ovalados, que recebem toda a carga do parreiral. Estas pedras pesam em torno de 100kg, e é muito comum encontrá-las suspensas no ar.








Vara recem plantada. Os palanques de eucalipto apodrecem em 4 ou 5 anos, é o tempo necessário para o tronco engrossar e segurar todo o peso de produção.










clique sobre as imagens para ver ampliação





















domingo, 5 de abril de 2009

Maridaje e Harmonização

É assim mesmo que se diz em espanhol: Maridaje. Este é o termo utilizado para tratar da combinação entre vinho e comida. Maridaje é a união, analogia, ou conformidade com que duas coisas se enlaçam ou correspondem, como a união entre a videira e o olmo, por exemplo, ou a boa combinação entre duas ou mais cores. Está escrito desta forma no Dicionário da Real Academia Espanhola. Deriva do verbo maridar e corresponde a esposar, em português, uma curiosa inversão de gênero, o que pode produzir algum embaraço enquanto estivermos examinando a carta de vinhos, ou decidindo por esta ou aquela marca.

Nem sempre casamento e harmonia andam juntos, por isso devemos ter muito cuidado na hora da escolha. Você opta por uma Paletilla de Tenasco a la Menta y Melocotón enquanto que sua namorada esposa ou companheira decide por Espirales con Setas Frescas a las Hierbas Aromáticas. Surge então um grande dilema: como combinar escolhas antagônicas com um único vinho. Seu prato pede um vinho robusto, encorpado, com estágio moderado em barricas de carvalho, safra 1998 ou anterior, um Tempranillo de Ribera del Duero, certamente. Espirales com setas frescas casa melhor com um branco jovem, elegante, com acidez equilibrada, ligeiramente frutado e alguma expressão aromática. Peça uma água mineral e reflita seriamente sobre sua escolha, trate de ganhar tempo, qualquer equívoco agora pode provocar a desunião imediata e um final de noite desastroso. Pense bem, no mínimo faltou diálogo, vocês leram o cardápio no mais completo e absoluto silêncio, ambos mergulhados em preocupações do dia a dia ou com assuntos não resolvidos durante a semana. Você devia ter abordado a teoria do prato único durante o caminho, afinal não faltou tempo para desenvolver o tema, com todos os congestionamentos que vocês tiveram de enfrentar. Melhor buscar apoio de pessoal especializado, procure imediatamente um sujeito vestindo calça preta, sapatos pretos, camisa branca e gravata borboleta igualmente preta, costumam ficar parados próximos do acesso a cozinha com o olhar fixo em algum ponto do teto. Seja sincero, explique a situação, fique tranqüilo, nada melhor do que alguém que conheça profundamente o menu e a carta de vinhos para resolver tal impasse. Transfira a responsabilidade da escolha, relaxe e desfrute a indicação, é hora de avaliar a casa conceitualmente. A partir deste momento, trate de aproveitar cada minuto de sua noite e não se preocupe se o vinho recomendado não estiver à altura de sua paletilla, ou não casar perfeitamente com as espirales com setas frescas, afinal estas decisões são mesmo complicadas.